Hi, reader lizard.
A história que eu vos conto
hoje é sobre a minha experiência com o filme “Belle”, da Toho, lançado em 2021.
Para começar, já digo que o filme é bom, teve uma recepção muito boa do público
em geral, e foi indicado em diversos festivais como melhor filme de animação.
Mas de todo modo, assista ao filme e tire suas próprias conclusões.
O filme foi escrito por Mamoru
Hosoda. Para quem não conhece, ele trabalhou no filme “A garota que conquistou
o tempo (2006)”, um filme que gosto muito; e dirigiu “Digimon: o filme” (1999);
trabalho onde explorou no enredo a tecnologia e o mundo virtual.
A história nos mostra exatamente
a interação de pessoas no mundo virtual, passando pelos julgamentos, ataques
pessoais, a exploração de eventos traumáticos para fins de engajamento e
publicidade, e as pessoas escondidas por traz de perfis na internet. No fim das
contas, não deixa de ser uma crítica muito válida no mundo atual.
A produção tem uma animação
bem fluida, cenas em CGI agradáveis; um espetáculo visual; cenários muito
realistas; ótimas canções com melodias e performances incríveis. Aliás, quem
gosta de música e J-POP especificamente, vai se agradar bastante.
O filme nos conta a
história de Suzu, uma garota geralmente triste, que vive com a dor de ter
perdido a mãe quando era bem garotinha. Sua mãe, a deixou para tentar salvar
outra criança, e no ato de heroísmo, embora tenha salvado a criança, acaba
perdendo a vida.
Mas a Suzu nunca
compreendeu aquele ato da mãe, e se sentiu completamente abandonada por ela,
que deu a vida por outra criança. Isso se reflete bem no dia a dia da Suzu,
onde ela se fecha para qualquer relação familiar com seu pai, por exemplo, que
tenta muito aproximar-se da filha.
A Suzu tinha amor pela
música, e adorava cantar, um dom estimulado, certamente, por sua falecida mãe
na infância. Mas no decorrer do tempo, ela se reprimiu muito, e acabou deixando
de cantar em público.
A vida de Suzu muda quando
ela descobre o “U”, uma rede social muito popular no mundo, que é como um
Instagram, twiter e qualquer jogo de vídeo game num futuro próximo, com
diversas formas de interação. O app de celular “U” faz uma leitura pessoal, baseando
as emoções do indivíduo para criar um avatar personalizado para o usuário.
Daí pra frente nós somos jogados juntos com a Suzu para um mundo virtual com milhões de avatares das mais diversificadas formas, num mundo totalmente virtual com muitas cores e energia.
Nasce com as emoções da
Suzu, Belle, nome dado por ela própria. Sua aparência e movimentações no canto
lembram muito Elza de Frozen, da Disney – talvez não por acaso, o animador e
desenhista Jin Kim da Disney assina na produção. E sim, há música. Mas não, não
é um musical.
Acontece que naquela forma
virtual, como Belle, Suzu não tinha medo de cantar. Escondida por traz de um
personagem ela simplesmente soltava a voz e emocionava milhões de pessoas, e em
pouco tempo, ela se torna um fenômeno mundial. Todos queriam ouvi-la e vê-la
cantar, todos queriam falar sobre, todos queriam assistir a eventos online,
todos queriam de algum modo, ter um pouco daquele sucesso.
A fama, todavia, nunca foi desejo
de Suzu, que só queria cantar abertamente novamente. Ela só queria fazer o que
gosta, fazer o que a aproximava da mãe, de certo modo.
Uma vez, durante um
espetáculo, o show foi interrompido por um monstro horrendo, que teve resposta agressiva
dos guardas da plataforma, cujo têm o poder de “revelar” os usuários, isso é:
expor os dados dos usuários por trás de seus personagens. Num mundo onde oque
mais se busca é o anonimato por traz da rede social para perpetrar condutas
danosas, imorais ou esconder suas vidas reais, isso seria devastador.
O monstro, apesar de tudo,
consegue neutralizar todos os guardas, o que chama a atenção de todo o mundo, e
desperta o interesse do público, que agora anseia por saber quem é a pessoa por
traz daquele avatar. Até mesmo Belle deseja saber quem é, e saber o que lhe
causa tamanha estranheza, que parece, mais do que tudo, uma dor profunda. Talvez
a dor do monstro tenha chamado atenção de Suzu, porque a sua dor também era
forte.
Belle sai por aí – no U –
em busca da besta, e é desencorajada por AI, isso mesmo – existem inteligências
artificiais que ajudam o monstro a se ocultar na rede. Na verdade, é até bem
conflitante, já que as AI deveriam estar a serviço do core e suas diretrizes.
Cheguei a pensar várias
vezes que, a mãe da Suzu estava ali como algum avatar, a guiando para o
amadurecimento emocional, de algum modo. Mas a história não vai por aí.
Na verdade, nas tentativas de entender o monstro é que fica explícito que se tratava ali de A Bela e a fera, eis o por quê de, apesar de hostil, a fera nunca ousou ferir a Belle. As suas dores eram imensas, e tudo o que ele precisava era de compreensão, empatia, e não repulsa, ataques ou julgamentos.
Começa então, uma corrida
contra o tempo para encontrar o usuário por traz daquele perfil, aquele ser
humano angustiado e ferido em sua alma, de tal modo que se transformara numa
fera na rede social.
Suzu então, abandona o medo
pelo julgamento alheio e se expõe no “U” para milhões de pessoas, e mais, ela canta
para um público que jamais pensou que conseguiria, numa tentativa de encontrar
o usuário por trás da fera.
O desfecho revela se tratar
de um caso de relação abusiva familiar. Eles
não tinham como se livrar sozinhos daquelas correntes, cujo não se vê, mas se
sente o peso.
Suzu luta no mundo real
para salvar os dois da violência contínua, e descobre que aquela dor imensa
poderia ser diminuída (se não exaurida) se alguém, não o julgasse, mas o
ajudasse.
Por fim, ela compreende a
atitude da sua falecida mãe, a perdoando completamente; perde o medo e consegue
se impor e a cantar em público; volta a ter uma boa relação com seu próprio pai–
sua família – e vive bem consigo mesma.
Belle não é uma história
sobre amor romântico, mas sobre empatia e amor, pelo próximo. Ela não fez nada
disso por interesse pessoal, mas foi muito bem recompensada, porque quando
ajudamos os outros, nós também nos ajudamos no caminho.
Sem dúvidas, Belle é um bom
filme.
Eu não contei
detalhadamente os eventos do filme, muito embora não deixe de conter spoilers.
Mas o que eu realmente quero é expor a experiência pessoal, claro com algumas
informações relevantes, mas já deixo claro que, opinião nenhuma é absoluta, e
eu espero honestamente que ao final desta publicação, você saia daqui com
vontade de assistir ao filme.
Belle está disponível (com
dublagem em português) na Netflix na data desta publicação.
Queridos Lagartos, cultivem
a empatia, e não importa o que digam, você sempre pode ser alguém melhor do que
ontem. Se possível, recomece, busque sempre ser sua melhor versão de si mesmo.
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Kalango Alpha!