Postagem em destaque

DESPEDIDA AO MESTRE AKIRA TORIYAMA

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

KNN 6 – BELLE: A VALOROSA VIRTUDE CHAMADA EMPATIA


 

Hi, reader lizard.

A história que eu vos conto hoje é sobre a minha experiência com o filme “Belle”, da Toho, lançado em 2021. Para começar, já digo que o filme é bom, teve uma recepção muito boa do público em geral, e foi indicado em diversos festivais como melhor filme de animação. Mas de todo modo, assista ao filme e tire suas próprias conclusões.

O filme foi escrito por Mamoru Hosoda. Para quem não conhece, ele trabalhou no filme “A garota que conquistou o tempo (2006)”, um filme que gosto muito; e dirigiu “Digimon: o filme” (1999); trabalho onde explorou no enredo a tecnologia e o mundo virtual.

A história nos mostra exatamente a interação de pessoas no mundo virtual, passando pelos julgamentos, ataques pessoais, a exploração de eventos traumáticos para fins de engajamento e publicidade, e as pessoas escondidas por traz de perfis na internet. No fim das contas, não deixa de ser uma crítica muito válida no mundo atual.

A produção tem uma animação bem fluida, cenas em CGI agradáveis; um espetáculo visual; cenários muito realistas; ótimas canções com melodias e performances incríveis. Aliás, quem gosta de música e J-POP especificamente, vai se agradar bastante.


O filme nos conta a história de Suzu, uma garota geralmente triste, que vive com a dor de ter perdido a mãe quando era bem garotinha. Sua mãe, a deixou para tentar salvar outra criança, e no ato de heroísmo, embora tenha salvado a criança, acaba perdendo a vida.

Mas a Suzu nunca compreendeu aquele ato da mãe, e se sentiu completamente abandonada por ela, que deu a vida por outra criança. Isso se reflete bem no dia a dia da Suzu, onde ela se fecha para qualquer relação familiar com seu pai, por exemplo, que tenta muito aproximar-se da filha.

A Suzu tinha amor pela música, e adorava cantar, um dom estimulado, certamente, por sua falecida mãe na infância. Mas no decorrer do tempo, ela se reprimiu muito, e acabou deixando de cantar em público.

A vida de Suzu muda quando ela descobre o “U”, uma rede social muito popular no mundo, que é como um Instagram, twiter e qualquer jogo de vídeo game num futuro próximo, com diversas formas de interação. O app de celular “U” faz uma leitura pessoal, baseando as emoções do indivíduo para criar um avatar personalizado para o usuário.

Daí pra frente nós somos jogados juntos com a Suzu para um mundo virtual com milhões de avatares das mais diversificadas formas, num mundo totalmente virtual com muitas cores e energia.


Nasce com as emoções da Suzu, Belle, nome dado por ela própria. Sua aparência e movimentações no canto lembram muito Elza de Frozen, da Disney – talvez não por acaso, o animador e desenhista Jin Kim da Disney assina na produção. E sim, há música. Mas não, não é um musical.

Acontece que naquela forma virtual, como Belle, Suzu não tinha medo de cantar. Escondida por traz de um personagem ela simplesmente soltava a voz e emocionava milhões de pessoas, e em pouco tempo, ela se torna um fenômeno mundial. Todos queriam ouvi-la e vê-la cantar, todos queriam falar sobre, todos queriam assistir a eventos online, todos queriam de algum modo, ter um pouco daquele sucesso.

A fama, todavia, nunca foi desejo de Suzu, que só queria cantar abertamente novamente. Ela só queria fazer o que gosta, fazer o que a aproximava da mãe, de certo modo.

Uma vez, durante um espetáculo, o show foi interrompido por um monstro horrendo, que teve resposta agressiva dos guardas da plataforma, cujo têm o poder de “revelar” os usuários, isso é: expor os dados dos usuários por trás de seus personagens. Num mundo onde oque mais se busca é o anonimato por traz da rede social para perpetrar condutas danosas, imorais ou esconder suas vidas reais, isso seria devastador.  

O monstro, apesar de tudo, consegue neutralizar todos os guardas, o que chama a atenção de todo o mundo, e desperta o interesse do público, que agora anseia por saber quem é a pessoa por traz daquele avatar. Até mesmo Belle deseja saber quem é, e saber o que lhe causa tamanha estranheza, que parece, mais do que tudo, uma dor profunda. Talvez a dor do monstro tenha chamado atenção de Suzu, porque a sua dor também era forte.


Belle sai por aí – no U – em busca da besta, e é desencorajada por AI, isso mesmo – existem inteligências artificiais que ajudam o monstro a se ocultar na rede. Na verdade, é até bem conflitante, já que as AI deveriam estar a serviço do core e suas diretrizes.

Cheguei a pensar várias vezes que, a mãe da Suzu estava ali como algum avatar, a guiando para o amadurecimento emocional, de algum modo. Mas a história não vai por aí.

Na verdade, nas tentativas de entender o monstro é que fica explícito que se tratava ali de A Bela e a fera, eis o por quê de, apesar de hostil, a fera nunca ousou ferir a Belle. As suas dores eram imensas, e tudo o que ele precisava era de compreensão, empatia, e não repulsa, ataques ou julgamentos.


Começa então, uma corrida contra o tempo para encontrar o usuário por traz daquele perfil, aquele ser humano angustiado e ferido em sua alma, de tal modo que se transformara numa fera na rede social.

Suzu então, abandona o medo pelo julgamento alheio e se expõe no “U” para milhões de pessoas, e mais, ela canta para um público que jamais pensou que conseguiria, numa tentativa de encontrar o usuário por trás da fera.  

O desfecho revela se tratar de um caso de relação abusiva familiar. Eles não tinham como se livrar sozinhos daquelas correntes, cujo não se vê, mas se sente o peso.

Suzu luta no mundo real para salvar os dois da violência contínua, e descobre que aquela dor imensa poderia ser diminuída (se não exaurida) se alguém, não o julgasse, mas o ajudasse. 


Por fim, ela compreende a atitude da sua falecida mãe, a perdoando completamente; perde o medo e consegue se impor e a cantar em público; volta a ter uma boa relação com seu próprio pai– sua família – e vive bem consigo mesma.

Belle não é uma história sobre amor romântico, mas sobre empatia e amor, pelo próximo. Ela não fez nada disso por interesse pessoal, mas foi muito bem recompensada, porque quando ajudamos os outros, nós também nos ajudamos no caminho.  



Sem dúvidas, Belle é um bom filme.

Eu não contei detalhadamente os eventos do filme, muito embora não deixe de conter spoilers. Mas o que eu realmente quero é expor a experiência pessoal, claro com algumas informações relevantes, mas já deixo claro que, opinião nenhuma é absoluta, e eu espero honestamente que ao final desta publicação, você saia daqui com vontade de assistir ao filme.

Belle está disponível (com dublagem em português) na Netflix na data desta publicação.

 

Queridos Lagartos, cultivem a empatia, e não importa o que digam, você sempre pode ser alguém melhor do que ontem. Se possível, recomece, busque sempre ser sua melhor versão de si mesmo.

---

Kalango Alpha!